JARDIM SUSPENSO
Cactos crescem entre as almas
mortas
que velam seus ossos:
os pássaros silenciam nos galhos
secos
em reverência, como a
embalar os sofrimentos.
As flores embelezam a terra
calejada,
com cores e odores leves
a reger uma brisa quase
imperceptível
(jardim suspenso colorindo
olhos tristes e indiferentes,
descrentes da inércia humana).
...As manchas passeiam como
nódoas,
homem cru, estado pedra;
enquanto os corações umedecem
a face
(unção a saborear o estado de
coisa).
O tempo pesa, a terra abre:
a carne aos poucos penetra
(ponta do dedo na água fria)
e vai suportando, sem aceitar
e vai aceitando, sem suportar
e vai vivendo, sem se importar
e vai morrendo, sem se preparar.
Sem sentir o aroma e as cores
belas do jardim,
e os pássaros a velarem
a dor
das almas mortas,
dos ossos gastos,
Dos calos da terra que
geme
na fertilização do ser:
retalhos de uma colcha de algodão
impossível de se coser.