JARDIM SUSPENSO

Cactos crescem entre as almas

mortas

que velam seus ossos:

os pássaros silenciam nos galhos

secos

em reverência, como a

embalar os sofrimentos.

As flores embelezam a terra

calejada,

com cores e odores leves

a reger uma brisa quase

imperceptível

(jardim suspenso colorindo

olhos tristes e indiferentes,

descrentes da inércia humana).

...As manchas passeiam como

nódoas,

homem cru, estado pedra;

enquanto os corações umedecem

a face

(unção a saborear o estado de

coisa).

O tempo pesa, a terra abre:

a carne aos poucos penetra

(ponta do dedo na água fria)

e vai suportando, sem aceitar

e vai aceitando, sem suportar

e vai vivendo, sem se importar

e vai morrendo, sem se preparar.

Sem sentir o aroma e as cores

belas do jardim,

e os pássaros a velarem

a dor

das almas mortas,

dos ossos gastos,

Dos calos da terra que

geme

na fertilização do ser:

retalhos de uma colcha de algodão

impossível de se coser.

INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI
Enviado por INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI em 16/03/2011
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