PEÇAS DO MEU ARMÁRIO
As tantas vidas que trago comigo
Faz-me olhar no espelho,
A procurar nele abrigo,
Sou santa, pecadora,
Alegre, tão triste,
Real, sonhadora,
Guerreira, ou a que desiste,
Sou muitas vidas em uma só,
Em tantas delas sempre na solidão,
Procuro companhia e não encontro,
Vejo que quase todos estão
Servindo de companhia
A si mesmo,
Os que a mim chegam de braços abertos
Abrem meus olhos escandalosos,
Enxergo longe o que está por trás,
Será que há um olhar humano
Tão sincero a ponto de ver no outro
O que ao outro o satisfaz?
Olho para dentro de mim,
Reparo com quantos olhos já me enxerguei,
Se com tantos já enxerguei a mim,
Ao outro, com quantos enxergarei?
Quantas pessoas sou em mim
Quando tento decifrar-me?
Quantas pessoas decifrarão
O que não chego nem perto de ser?
Minha vida nessas tantas vidas
Não passam de muitas Poesias
Vestindo peças quase esquecidas
No armário dessa minha única Vida.