ENTARDECER
A idade secou no prato da manhã
Veio o meio-dia, sol a pino
Deus na sombra
Pão podre na bandeja
Idéias vagas esquentando o fogo
Na escada rolante desce a água
Passando os degraus em calafrios
O caos aguarda
O presente esperado em fogo brando
No envelhecimento das horas
A noite acelera o quadro do fim
Como armadilha e prece
A pagar o preço
Pelo alicerce imberbe construído
Na abstração insone dos lábios
É madrugada, a máscara aviva
A teia nos joelhos da mente
Oração e angústia
Trazendo medo e culpa no estômago
Suplicante dos furacões da ilha
Chega o sol, já vem tarde
Os olhos vêem fogo e água
Na piscina seca do tempo
A distância arde, o esquecimento ateia
O escuro no puro claro do dia
As horas passeiam mansamente
Entre os dedos num piano suplicante
Ouvido surdo na terra
Arregalando o desejo na lúgubre
Estada da cria no berço do infante
Casa forte, prato limpo. Madeira e suporte
Para o caminho longo da memória
Mentira a esquentar o vinho
No cálice amargo do odor inebriante
Para o poso sublime da morte.