ENTARDECER

A idade secou no prato da manhã

Veio o meio-dia, sol a pino

Deus na sombra

Pão podre na bandeja

Idéias vagas esquentando o fogo

Na escada rolante desce a água

Passando os degraus em calafrios

O caos aguarda

O presente esperado em fogo brando

No envelhecimento das horas

A noite acelera o quadro do fim

Como armadilha e prece

A pagar o preço

Pelo alicerce imberbe construído

Na abstração insone dos lábios

É madrugada, a máscara aviva

A teia nos joelhos da mente

Oração e angústia

Trazendo medo e culpa no estômago

Suplicante dos furacões da ilha

Chega o sol, já vem tarde

Os olhos vêem fogo e água

Na piscina seca do tempo

A distância arde, o esquecimento ateia

O escuro no puro claro do dia

As horas passeiam mansamente

Entre os dedos num piano suplicante

Ouvido surdo na terra

Arregalando o desejo na lúgubre

Estada da cria no berço do infante

Casa forte, prato limpo. Madeira e suporte

Para o caminho longo da memória

Mentira a esquentar o vinho

No cálice amargo do odor inebriante

Para o poso sublime da morte.

INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI
Enviado por INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI em 15/03/2011
Código do texto: T2848728