AUGUSTO ANGÚSTIA...

Augusto angústia...
Discutia absurdos
Defendia ideologias
Escrevia poesias
Pouco comia
Mesmo assim
Relatava fatos verídicos
E vivia por viver.


Augusto angústia...
Pobre ser
Comum cidadão
Nosso irmão
Percorria o mundo
Em busca de pão
Somente queria ser feliz
E estava faminto de verdades
De sentimentos raros e caros
Possuidor de caráter indevassável
E dignidade incorruptível e inverossímil.


Augusto angústia...
Individuo sofrido
Pai amoroso
Irmão do coração
Filho ideal
Amante sem igual
Pura criatura
Repleto de amarguras
Calejado de lutar
Para seus filhos criar
E a mulher sustentar
Enfim por um amanhã melhor
Todavia ninguém o compreendia
E angustiado vivia a revelia.

Augusto angústia...
Desejava sobretudo
Que o amor fosse universal
E se propagasse a paz
Pelos quatros cantos da Terra
Mas tudo era visionária utopia
Que descia pelo ralo da pia
E escorria pra baixo do barraco.


Augusto angústia...
Sempre vivera no anonimato
Convivendo com gatos
Até que a sociedade o descobriu
E suas ideias reprimiu, baniu, impeliu
A um enorme buraco que se abriu
E incontinenti o repeliu no mês de abril
Foragindo-o do convívio social
Transformando-o logo depois em marginal.

Augusto angústia...
Foi caçado sem piedade
Este bem longe se refugiou
E de uma índia bela se enamorou
Desfrutando de uma paz interior
Contudo isso pouco durou já que
A sociedade depressa chegou
E aprisionou-o numa jaula
Deixando a míngua e sem língua
Só, triste e sem sua índia
E durante sucessivos dias ali ficou
Não aguentando mais o cubículo
Aos uivos e gritos se matou.



COLETÂNEA DE POEMAS, CRÔNICAS E CONTOS – ELDORADO. Santos/SP: Editora Sucesso, 2009.
Zaymond Zarondy
Enviado por Zaymond Zarondy em 14/03/2011
Reeditado em 25/02/2019
Código do texto: T2848500
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