ATRAVÉS DO ESPELHO
Onde é fim
onde é começo de mim
onde é o começo do meu fim
e tudo se espreguiça em nada?
Eu sentimento intenso
e sem paradeiro
angústia de asas desistidas
vontades não cumpridas
lamentos na tempestade
ah, esses ventos...
vago torpor, letárgica mudez
me desterro nos cantos
peso de batalhas perdidas
contra o inimigo invisível.
As mãos refletidas no espelho
estranhamente reais
e eu nem pude ver meus olhos
lá dentro, pedindo socorro...
Quem me olha e me vê , deixo estar
eu distraída em olhar minhas mãos
qual seres de vida prórpria...
Cansei daqueles olhos suplicantes dela (a outra)...
seus olhos a interrogar
seus olhos angustiados querendo respostas
respostas que eu não posso dar a ela
a mulher que me olha de dentro do espelho...
Às vezes sou somente boca
a pronunciar teu nome
feito uma súplica
outras sou só pele
acaricada em águas mornas
deliciosa trégua...
(um simples verso já não é tempo demais?
você pergunta ...)
Outras vezes sou leveza
raros instantes de contemplação
outras ainda, momentâneos sorrisos
também calores de sensualidade
inquietante entre as pernas
sou ouvidos, sou meus olhos
que lêem o mundo
em um alfabeto particular e ilógico.
Vontade tenho é de gritar
e machucar a calma confortável
entre os lençóis limpos
limpos demais..
Sou fonte, sou receptáculo
e, no entanto, não sei o sal que me habita
nem as águas que movem tais moinhos
pois nas vagas e imprecisas manobras
desta engrenagem
nasço e morro no mesmo segundo
naufrago pra ressurgir em fogo lento
início e fim, imagem vislumbrada
que nem começa e nem se acaba
nem se ergue, nem se dobra
apenas resiste
existe
insiste...