Pá de cal

Pá de cal

Cansei

Cansei de brincar com a vida

Cansei do cheiro forte do desassossego

Do eterno vaivém

À mercê da boa ou da má sorte

Cansei de brigar com a morte.

Cansei

Das conversas sem sentidos

Das lamúrias em dó maior

Dos segredos revelados

Ao pé do ouvido

Nas entrelinhas ao meu redor.

Cansei

Cansei da minha falta de fé

Da descrença acometida

Dos sorrisos educados

Amarelados, desbotados

Das honrarias sem sentido

Cansei de fazer café.

Cansei

Quero a minha rede de sisal

Minha viola de cordas enferrujadas

Uma melodia alegre na noite amena

Quero ver a lua cheia

Cheia de mim

Quero a minha pá de cal.

Perpétua Amorim
Enviado por Perpétua Amorim em 07/11/2006
Código do texto: T284728