Ausência e saudade
"...quando me faltar a palavra / que venha a luz da saudade..." (Nel Meirelles)
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Hoje, a bruma veio diferente,
E nenhum poeta teve saudade
De suas angústias passadas.
Um velho sentimento emergiu
Entre lágrimas e sorrisos,
Entre o cheiro e o som
Do último rodopio da valsa
Sob os lustres do salão.
Ressinto-me da vida à mesquinhez
Por negar-me ante a essa flacidez
o instante da minha alma desconsolada.
Na tua ausência, incólume à dor,
Sinto a falta do instante esquecido,
Mas não choro o beijo perdido;
Choro, sim, na aurora não anunciada:
A dor da ausência do que não vivi!
Ah! Essa mesma saudade
Que ameniza o passado entregue
Aos instantes pueris de veleidades;
- Apenas lembranças do amor incerto!
Agora vivo com o choro e o sorriso
da fragilidade da alma que esqueceu
os lábios dos espectros que atormentaram
Os nossos momentos frágeis.
Hoje, descobri que encobri
Com o manto do meu tempo insano
meus antigos sentimentos mesquinhos.
O melhor é viver a tua ausência,
Mesmo no aconchego da dor em claro
e a vontade de sentir-me ausente
com este sofrer de ti a ermo:
Amanhã, terei saudade de ter saudade!