Ausência e saudade

"...quando me faltar a palavra / que venha a luz da saudade..." (Nel Meirelles)

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Hoje, a bruma veio diferente,

E nenhum poeta teve saudade

De suas angústias passadas.

Um velho sentimento emergiu

Entre lágrimas e sorrisos,

Entre o cheiro e o som

Do último rodopio da valsa

Sob os lustres do salão.

Ressinto-me da vida à mesquinhez

Por negar-me ante a essa flacidez

o instante da minha alma desconsolada.

Na tua ausência, incólume à dor,

Sinto a falta do instante esquecido,

Mas não choro o beijo perdido;

Choro, sim, na aurora não anunciada:

A dor da ausência do que não vivi!

Ah! Essa mesma saudade

Que ameniza o passado entregue

Aos instantes pueris de veleidades;

- Apenas lembranças do amor incerto!

Agora vivo com o choro e o sorriso

da fragilidade da alma que esqueceu

os lábios dos espectros que atormentaram

Os nossos momentos frágeis.

Hoje, descobri que encobri

Com o manto do meu tempo insano

meus antigos sentimentos mesquinhos.

O melhor é viver a tua ausência,

Mesmo no aconchego da dor em claro

e a vontade de sentir-me ausente

com este sofrer de ti a ermo:

Amanhã, terei saudade de ter saudade!

Kal Angelus
Enviado por Kal Angelus em 07/11/2006
Reeditado em 07/11/2006
Código do texto: T284696