A TEMPESTADE
Planejei meus dias com antecedência,
mas a tempestade me pegou em alto-mar.
Meu navio tão forte tornou-se frágil
e, do meu destino, só me restou naufragar.
Jogado pelas ondas, vi a face fria da morte,
mas, de certo modo, não me abandonou a sorte
e, logo, meu corpo veio em uma praia parar.
Nenhum dos companheiros de viagem
logrou sobreviver ao cataclismo
e eu, que planejara meu futuro,
me vi jogado à beira de um abismo.
Sem comida, sem água, ferido,
sem bússola, sem sonhos, perdido,
senti no corpo a dor do impaludismo.
Tremia, não podia nem chorar.
O mar, a quem eu via como amigo,
não teve pejo em me destroçar.
A dor da febre me feriu os lábios,
meus braços lassos, galhos inúteis.
Jogado na areia, clamei pela morte,
mas ela não se atém a motivos fúteis,
e, por isso, não tem pressa,
chega quando quer,
tantos morrem todos os dias
e eu era apenas um qualquer.
E como não veio a morte,
decidi me reerguer,
voltar os olhos para ilha
e, na floresta, me perder.
No meu planejado futuro,
na situação em que estou,
o fim seria sempre o mesmo,
a morte em seu destemor.
Se é para morrer,
que seja em viagem,
descobrindo os mistérios,
além dessa paisagem.
A ilha onde estou
é agora o que eu sou.
Invadindo-a, me descubro
e sei até onde vou.