NÃO SE DEVE CONFIAR EM DITADO POPULAR

Dizem que quem tem boca vai a Roma.

Em sentido figurado pode até funcionar.

Mas e se você está num país que fala outro idioma?

Aí é que eu quero ver você sozinho se arrumar!

Como aconteceu comigo quando fui ao Canadá.

Fui tranquilo confiando no ditado popular

E esqueci que o principal era o inglês estudar...

Ou talvez, quem sabe, o lindo e doce francês?...

A verdade é que não gosto nem um pouco de lembrar

Do sufoco que passei naquelas terras de lá.

No aeroporto chegando olhei tudo apavorado,

Pois era tão diferente do que tinham me falado!

De repente acordei para a triste realidade,

Confesso que até perdi toda a naturalidade.

Não sei dizer até hoje o que houve, afinal.

Como pude cair nessa sem pensar em me dar mal?

Porque aqui sempre fui o cara-de-pau da cidade,

Mas meu defeito é não ter nem um pouco de maldade.

Fiquei parado a pensar e nem senti passar a hora,

De repente despertei: - Por favor, minha senhora...

A mulher loura e arrogante me olhou desconfiada

E prosseguiu seu caminho. Com medo de ser ouvido,

Xinguei, então, bem baixinho: - Bruxa desajeitada!

Mas lembrei que poderia dizer tudo o que queria,

Pois ela não saberia jamais o que lhe diria.

Com raiva e revoltado com tudo o que acontecia,

Fui atrás dela apressado. Desabafar pretendia.

Caminhando ao seu lado com o coração fechado,

Mas certo que poderia curtir a velha um bocado,

Com um sorriso maroto disse desaforado:

- Oi, velhinha rabugenta, pensa que sou tarado?

Olhos esbugalhados, respiração ofegante,

Para a velha do meu lado: - Ah, seu grande meliante!

Tamanho foi o meu susto ao ouvir sua resposta

E compreender as palavras. Mas que criatura grossa!

Azarado como sou, não podia esperar outra coisa encontrar

Nesse fim de mundo cão, senão um chato irmão.

Depois do que se passou não podia lhe pedir

Que me ajudasse a encontrar um hotel para dormir.

Fui andando no escuro. Escuro, sim, mas de palavras.

Como agora sair dessa?!... E perdido já estava.

Surgiu diante de mim um negro de olhar matreiro,

Mico não vou pagar, pois se é negro há de ser um brasileiro.

Pensei como um grande estúpido e disse numa só ginga:

- Boa noite, meu amigo. Um bom hotel, que me diz?

Arrebitou o nariz e respondeu como um nobre: - Excuse me, please!

E seguiu o seu caminho sem saber que poderia um imbecil ajudar.

Fiquei ali sem ação. Poderia adivinhar

Que não era do Brasil e sim do próprio Canadá?!...

Depois vejo uma jovem com um embrulho na mão:

- Do you speak english? Pergunto de antemão.

Como todo brasileiro, esta frase eu sei falar.

Encho o peito pra mostrar que sei até conversar.

Mas, Meu Deus, que confusão!... Queria ser poliglota,

Mas não passo de um louco, de um grande idiota.

Perguntar pra canadense se sabe falar inglês?!...

Para o Brasil querido custou muito mas voltei,

E em ditado popular nunca mais confiarei!...

Julieta Bossois
Enviado por Julieta Bossois em 13/03/2011
Código do texto: T2845451
Classificação de conteúdo: seguro