SOMOS TODOS IGUAIS
Somos todos iguais na miséria
o riso falso, os distúrbios
os contrastes, o calabouço
os destroços na mente
o banquete da alma
As escadarias de pedra
os escorregos de mármore
os pés descalços, as feridas
as imagens de santo
o desencanto na esquina
O estômago sem fome
a imagem sem foco
a distância sem ponte
a fonte que seca
a floresta de implantes.
Somos todos iguais
somos todos miseráveis
somos todos múmias
somos todos fúrias
somos todos somas
A cacimba que secou
o dente que caiu
o preço que subiu
a amante que morreu
no verão que invernou
Somos todos iguais
nos desencantos da figura
na fissura dos dedos
nas cáries dos dentes
na roupa do boneco de pano.
Somos tão diferentes
ao mesmo tempo que iguais
somos tão humanos
no tempo de brutais
sacerdotes em púlpitos infernais.
Somos sedentos insaciáveis
somos descrentes ajoelhados
somos espelhos no abismo
somos o choro de fome do filho
somos homens e animais.