Só por ora, agora
Queria uma palavra suja
Infame, porca, imunda
Vomitada do profundo
Essa poesia dissimula
Adorna de indevidos
A solidão e a tristeza
E coloca belas cortinas
No antro do desamor
Execrável lirismo
Que me enfeita a dor
Só por ora queria
Uma palavra gasta
Rasgada de dentro
E estilhaçada
Detestáveis imagens
Ditas poéticas
Que me escondem o ermo
O deserto e o inferno
Dessa saudade
Só por ora queria
Por um instante
Uma palavra torta
Como um estrondo
Como trovão ou raio
Que durasse um átimo
E gritasse por mim
A tristeza e a solidão
A saudade sem tamanho
Para que vissem enfim
Que não é tão fácil assim
Ajudar essa torpe poesia
A não falar de mim
E que ouvissem
O amor morrer
Num lampejo
Levar o desejo
Todas minhas vontades
De não viver mais assim
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 10/03/2011
Reeditado em 29/07/2021
Código do texto: T2839853
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.