ONDE ESTÁ DEUS! (parte 7 de 7)

ONDE ESTÁ DEUS!

Na carta anônima e na tabuada da cartilha;

No acento circunflexo e na base da cedilha;

Nos braços da polícia e no chefe da quadrilha;

No seio que amamenta e no escroto na virilha;

No aviso de perigo e no disfarce da armadilha;

Nos dados da estatística e no gráfico da planilha.

Na falsa simpatia e na explicita arrogância;

Na medida de um parsec e na micro distância;

Na obscena puberdade e na pureza da infância;

No suplício da fome e no alimento em abundância;

No pregador incrédulo e no médico da ambulância;

Na singeleza da oblação e na basbaquice da ganância.

No mestiço sarará e no puro galego;

No afago no bebê e no coice do burrego;

Na surdez do teú e no sonar do morcego;

Na vestal timidez e no relaxo do chamego;

Na absoluta agitação e no relativo sossego;

No operário demagogo e no sindicalista pelego.

Está no sadio perfeito e na febre da demência;

Está no racismo idiota e na nítida benevolência;

Está na fórmula da física e no cálculo da potência;

Está na abastada poupança e na inevitável falência;

Está no versículo do evangelho e no tomo de ciência;

Está no que é sensato e no que apresenta incoerência.

Deus está no lucro do patrão e no salário do grevista;

Deus está no fantasma da ópera e no arame do equilibrista;

Deus está na vulva da Salomé e no pescoço do João Batista;

Deus está no anonimato do voyeur e no gozo do masoquista;

Deus está na tatuagem do roqueiro e na fantasia do sambista;

Deus está no cinto de castidade e no protesto do ginecologista.

Está no falso como também no franco;

Está no totalmente preto como no todo branco;

Está no aprumado como no apoiado no barranco;

Está na sola da bota como na madeira do tamanco;

Está no suave movimento como no trambolhão em solavanco;

Está no que funciona pela ignição como no que pega no tranco.

Está no teatro de fantoche e no saci mítico;

Está no ciclo da diáspora e no anti-semítico;

Está na visão do cego e nas pernas do paralítico;

Está no refrigerante de laranja e no ácido fluorítico;

Está na informática hoje e no machado do neolítico;

Está no espírito de porco, MAS NUNCA está no político.

Está no começo, no meio do meio e lá no fim;

Está na mata fechada e nos canteiros do jardim;

Está no dialeto berbere, no português e no latim;

Está no pacato cidadão e no arreliento espadachim;

Está na prótese de borracha e na bengala de marfim;

Está no DNA do meu pai, nos meus filhos e em mim.

DEUS é o próprio homem à sua imagem;

É José o carpinteiro de humilde linhagem;

É o poeta do apocalipse na sua linguagem;

É o sermão da montanha na sua mensagem;

É o medo da espada no axioma da coragem;

É o erudito messias na expectativa de sua viagem.

DEUS é amor em forma de melodia;

É a noite, a madrugada, o amanhã e o dia;

É a suprema dádiva e a sublime magia;

É serenidade, bondade e a alegria;

É o ouro, a mirra e a estrela guia;

É Jesus, seu filho com Maria.

É pequeno na sua imensidão;

É médio dependendo da precisão;

É enorme apesar de parecer anão.

É o humano, a Sua melhor criação.

É o tudo, é o nada, é o sim e o não.

Sou EU, pois ELE está no meu coração.

(junho/2003)

Aleixenko
Enviado por Aleixenko em 10/03/2011
Código do texto: T2838714
Classificação de conteúdo: seguro