De um lado daquele rio de águas misteriosas
e bancos de areia movediça,
aves de penas negras voam
e sobrevoam ossos e peles
que o fabricante de ração não quis.

O ar fecha o nariz ao cheiro forte
que ventos impiedosos espalham,

o solo chora
por hospedar estranhas sobras,

e nuvens levantam os olhos,
tentando livrar-se dessa paisagem
mórbida.

Mas do outro lado, 
na outra margem,

dançam marrecos tocadores de flautas doces,
brincam de amigas da Rainha
minúsculas flores roxas,

barcos aportam 
desembarcando almas enamoradas,
de mãos dadas,
e sorrisos largos.

E fosse por qual motivo fosse,
mesmo que tão perigoso assim me parecesse,
eu arriscaria -
e atravessaria essa ponte
sem nada levar,
do que penso que tenho.

Porque para ser feliz é preciso,
quem sabe,
de algumas coisas se despojar,
aventurar-se.
Ao menos tentar.

E recomeçar.

Miriam Dutra
Enviado por Miriam Dutra em 10/03/2011
Reeditado em 13/03/2013
Código do texto: T2838557
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.