ODE À LUA

A lua grávida

desfilava no céu

senhora da noite

dama límpida e faceira

a inebriar corações.

Ah, ó lua, parecias

desfilar ao som da

harmonia celestial

sobre todos os olhos

para todas as almas

irmanadas e iguais.

- Só tu eras diferente.

Quando aparecias já

sem o brilho da

juventude, ensombreada

pela terra, ainda assim

desfilavas

qual moça bonita

leve e lírica

mesmo vestida de terra

mesmo humana

mas serena, mágica!

Mágica... ah, o que dizer

de ti, bela, senhora

vestida de pérola

vestida de leite

vestida de fogo

vestida de sol,

onde se encerrava a beleza.

Regias os mortais com

maestria, desenvoltura

rigor e candura na

condução da valsa eternal.

Sob teu domínio estavam

egípcios, gregos, índios

história, espírito

céticos e ignorantes.

Ambiciosos, todos olhávamos

à beleza estonteante de ser.

Enciumadas as mulheres

a cobriam,

mas ela sempre voltava

pelas janelas do olhar

como os girassóis de van Gogh

as pastorais de Beethoven

todas as criações divinas,

- como tu,

em um só momento...

Ah, se todas as noites

botasses aquele vestido

de terra sob meus olhos

a pratear as ruas

a iluminar os mares

a acender o fogo nos

olhos dos lobos

pelas frestas da floresta

fazendo dia novo

no chão da noite...

e eu ficaria silencioso

deitado na grama

e vestido de lua;

nos sonhos a veria

nua desfilando para mim.

Uma noite dessas olhei

displicentemente para o céu,

não estavas lá

a me namorar,

mas estavas a desfilar

para meus olhos:

linda, fagueira

grávida do planeta

vestida de terra

livre e inteira,

a atrair o olho humano

nos teus olhos

a se inebriar.

(Obs.: poema publicado no livro O Recanto Sagrado da Luz).

INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI
Enviado por INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI em 10/03/2011
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