A TEMPESTADE
A tempestade rasga-se
no sono do dia anterior,
nas hóstias sagradas
da murcha flor-de-lis.
É de manhã, mostra-se
a sonolência da têmpera oca,
os pés mancos escondem
a essência da luz fosca
nos olhos sujos do criador.
Céu e terra se encontram
Em desalinho e a luneta
Mágica cruza o caminho
Dos ramos verdes,
Em sangue fétido de flor.
É domingo. A casa vazia
enche a ventania da celebração.
A luz acende a vela na
sublevação da etérea fala no
canto mórbido do santo templo.
A rajada varre as intempéries
e o silêncio cruza os braços;
do apocalipse as pernas
cambaleiam sem rumo certo.
Fecha-se a porta em desagravo
enquanto a trepadeira cresce
nos jardins que suspendem
as capas lisas dos rostos lúdicos.
O corpo lânguido se enrijece
à apresentação da alma no púlpito,
o ser dorme na sacra carcaça
do modelito rústico da cria
e a tempestade passa intocável sob
os frios pés de barro do andor.
(Obs.: poema publicado no livro Assim se Fez)