A TEMPESTADE

A tempestade rasga-se

no sono do dia anterior,

nas hóstias sagradas

da murcha flor-de-lis.

É de manhã, mostra-se

a sonolência da têmpera oca,

os pés mancos escondem

a essência da luz fosca

nos olhos sujos do criador.

Céu e terra se encontram

Em desalinho e a luneta

Mágica cruza o caminho

Dos ramos verdes,

Em sangue fétido de flor.

É domingo. A casa vazia

enche a ventania da celebração.

A luz acende a vela na

sublevação da etérea fala no

canto mórbido do santo templo.

A rajada varre as intempéries

e o silêncio cruza os braços;

do apocalipse as pernas

cambaleiam sem rumo certo.

Fecha-se a porta em desagravo

enquanto a trepadeira cresce

nos jardins que suspendem

as capas lisas dos rostos lúdicos.

O corpo lânguido se enrijece

à apresentação da alma no púlpito,

o ser dorme na sacra carcaça

do modelito rústico da cria

e a tempestade passa intocável sob

os frios pés de barro do andor.

(Obs.: poema publicado no livro Assim se Fez)

INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI
Enviado por INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI em 10/03/2011
Código do texto: T2838501