FLAGELAÇÃO
Ah, isto rói as entranhas
Incendeia o pensamento
Atiça toda e qualquer sanha
Mas controlar é preciso
É mister civilizar e mais ainda sublimar
Os instintos bestiais domar
Tomar dois chicotes de alfinetes de aço
E para o suplício partir
Tomar lições de aceitar e
De sorrindo
Assistir ao destino se cumprir
Com punhais as retinas ferir
Flagelos os piores curtir
A pele do corpo com as unhas extrair
Cuspir em flores
Santos ofender
Anjos expulsar
Aos pés do altar blasfemar
Heresias e impropérios proferir
Fazer uma bomba explodir
Aprimorar o tal de espírito
E em lugar de chorar e de sofrer
Conjugar os verbos renunciar e partir
Sorrir como uma demente
Que não percebe ao seu redor
Sorrir simplesmente por ser melhor
Cortar os dedos e desmaiar de prazer
Pois tudo isto e muito mais
É tão bom quanto morrer