O MALANDRO
Eu tenho que tomar jeito
Vestir um vestido senhoril
Colocar uma estola no peito
Treinar uma cara sisuda, fechada
Andar com um terço na mão
Fazer caras e bocas de oração
Porque assim, magrela, metida num jeans
De blusa colada modelo nadador
Até parece que jovem sou
Estava eu na calçada
Na parede da casa encostada
Uma amiga esperando
Tudo muito normal
Para um passeio no shopping
Fugindo do carnaval
A rua comprida e vazia
Lá vinha um rapaz se aproximando
Era um tipo simpático
Mas amalandreado
Usava também jeans, camiseta vermelha e boné
Todo largado
E lá vem ele na minha direção
Valei-me Nossa Senhora da Conceição
Será um ladrão
Parecia um tipo conquistador
E caminhava olhando para trás
Foi quando vi que na calçada a seguir
Por causa de uma pedra
Levaria uma topada, poderia cair
Não resisti
Ei, você, cuidado
Ai, por que falei isto
Lá se volta o danado
Olhe... eu disse pra você ter cuidado, foi só isto
E ele de novo me olhando
Tragou o cigarro
E disse
Tá aí, né, esperando o namorado
Não, não estou
Meu namorado é casado
Poxa, vai hoje se separar
Que é pra com você ficar
Tá enganado
É comigo que ele é amarrado
Então já vou
Não quero ser um cara apanhado
E saiu sapateando
Foi descendo
Quem sabe para o mercado
De onde voltaria bêbado
Ou mesmo drogado
Mas mesmo assim gostei dele
E o festejo neste poema
Quem sabe se berço e estudo tivesse
Fosse um namorado
Que valesse a pena