O MALANDRO

Eu tenho que tomar jeito

Vestir um vestido senhoril

Colocar uma estola no peito

Treinar uma cara sisuda, fechada

Andar com um terço na mão

Fazer caras e bocas de oração

Porque assim, magrela, metida num jeans

De blusa colada modelo nadador

Até parece que jovem sou

Estava eu na calçada

Na parede da casa encostada

Uma amiga esperando

Tudo muito normal

Para um passeio no shopping

Fugindo do carnaval

A rua comprida e vazia

Lá vinha um rapaz se aproximando

Era um tipo simpático

Mas amalandreado

Usava também jeans, camiseta vermelha e boné

Todo largado

E lá vem ele na minha direção

Valei-me Nossa Senhora da Conceição

Será um ladrão

Parecia um tipo conquistador

E caminhava olhando para trás

Foi quando vi que na calçada a seguir

Por causa de uma pedra

Levaria uma topada, poderia cair

Não resisti

Ei, você, cuidado

Ai, por que falei isto

Lá se volta o danado

Olhe... eu disse pra você ter cuidado, foi só isto

E ele de novo me olhando

Tragou o cigarro

E disse

Tá aí, né, esperando o namorado

Não, não estou

Meu namorado é casado

Poxa, vai hoje se separar

Que é pra com você ficar

Tá enganado

É comigo que ele é amarrado

Então já vou

Não quero ser um cara apanhado

E saiu sapateando

Foi descendo

Quem sabe para o mercado

De onde voltaria bêbado

Ou mesmo drogado

Mas mesmo assim gostei dele

E o festejo neste poema

Quem sabe se berço e estudo tivesse

Fosse um namorado

Que valesse a pena

taniameneses
Enviado por taniameneses em 10/03/2011
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