AS VOZES DA FLORESTA
Já no princípio soprava a brisa; o vento
beijava os brotos mais tenros na floresta
e o sussurro da folhagem, calmo, lento,
perpassava o meu caminho, em meio desta
profusão de odores, sons, que experimento.
A flora abriga a poesia e manifesta,
sem voz alguma, a beleza mais perfeita:
– A luz da tarde é uma noiva que se enfeita.
No calor, enquanto as folhas guardam sumos,
o cheiro evapora e sobe. Nessa altura,
com meu cão adiante, novos sons reúno;
comprovo o sabor de uma fruta madura.
O ar parado, pesado e mais soturno
reforça por fim o vazio... Quem procura
saber quanto é dura essa trilha tão negra?
O chão mais crestado não segue uma regra.
Vem o outono. Tudo estala em luz cinérea;
galhos quebram, quando secos, sem função,
e no chão compõem a cama de matéria,
num ruído quase nulo, em razão
do processo que penetra a terra e fere-a,
preparando-a para as neves que virão.
Onde piso, já não deixo mais pegadas:
– folhas caem – a conversa está eivada.
Quando a neve pesa firme sobre as copas,
sobre os galhos, cria um tempo amortecido
e seguindo, inda uma vez, a mesma rota,
o silêncio é poesia sem ruído.
Folha a folha, o choro dela se desloca;
no meu imo, dor escura consolido.
Vários ciclos tem a senda e, afinal,
na floresta vivem juntos bem e mal.
(sextina real)
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