APÓS O PESADELO
APÓS O PESADELO, ÀS 16Hs:
Revi o que de mim foi perdido
Reli o que nunca escrevi
Sonhei com amores fedidos
Hálitos podres em campari amanhecido
E bocas de batom no copo longo e carmim
Dentes quebrados e manchados amarelos
Mordendo meu cérebro liquefeito em versos
Imersos, submersos em fossas sonoras
Entupidas,
Nasais
Carcomidas
Em fezes derretidas
Em diarreias perfumadas
Fossas abissais
Submarinas, subterrâneas
Que, mesmo agora ainda teimam em expelir
O que de mim foi refugado, engolido e vomitado
Em bile azeda e sexo conservado em álcool
E a poesia me encheu o saco
Virei mendiga na rua sem deus
Sem anjos ou Infernos, sem abrigo sob o céu
Apenas buracos negros, inacabados, que ainda cavo
Com as mãos nuas, que foram tuas!
As linhas retas não são para mim, sigo as tortas
E me perco, morta ou apodrecendo ainda viva
Jamais esquecida do que, um dia, senti:
Morra agora esta voz que não se cala!
Despedace este corpo zumbi nati-morto!
Sangre a face que ri, descarnada e eterna
No meio das coxas, entre as pernas, em esperma banhadas
Curadas, no sêmem divino abençoadas, no pranto imundo
Do mundo fétido, ecoadas, onde há o meu mais doce visgo
Apenas te saliva ele e o brilho perdido
Nunca mais se cala na tua língua
Dos dias em que fui criança velha e morta sob a tua foice.
Era uma esperança?
Nunca, recuso-me, sou pessoa
E a palavra pessoa nunca me soou bem.
E, seca, desnutrida ou enjoada, sigo os passos do além
Que me cerca, enclausurada em mim mesma,
Em mim mesma,
Em ti, sem ti e fora de mim também!