APÓS O PESADELO

APÓS O PESADELO, ÀS 16Hs:

Revi o que de mim foi perdido

Reli o que nunca escrevi

Sonhei com amores fedidos

Hálitos podres em campari amanhecido

E bocas de batom no copo longo e carmim

Dentes quebrados e manchados amarelos

Mordendo meu cérebro liquefeito em versos

Imersos, submersos em fossas sonoras

Entupidas,

Nasais

Carcomidas

Em fezes derretidas

Em diarreias perfumadas

Fossas abissais

Submarinas, subterrâneas

Que, mesmo agora ainda teimam em expelir

O que de mim foi refugado, engolido e vomitado

Em bile azeda e sexo conservado em álcool

E a poesia me encheu o saco

Virei mendiga na rua sem deus

Sem anjos ou Infernos, sem abrigo sob o céu

Apenas buracos negros, inacabados, que ainda cavo

Com as mãos nuas, que foram tuas!

As linhas retas não são para mim, sigo as tortas

E me perco, morta ou apodrecendo ainda viva

Jamais esquecida do que, um dia, senti:

Morra agora esta voz que não se cala!

Despedace este corpo zumbi nati-morto!

Sangre a face que ri, descarnada e eterna

No meio das coxas, entre as pernas, em esperma banhadas

Curadas, no sêmem divino abençoadas, no pranto imundo

Do mundo fétido, ecoadas, onde há o meu mais doce visgo

Apenas te saliva ele e o brilho perdido

Nunca mais se cala na tua língua

Dos dias em que fui criança velha e morta sob a tua foice.

Era uma esperança?

Nunca, recuso-me, sou pessoa

E a palavra pessoa nunca me soou bem.

E, seca, desnutrida ou enjoada, sigo os passos do além

Que me cerca, enclausurada em mim mesma,

Em mim mesma,

Em ti, sem ti e fora de mim também!

Iama K
Enviado por Iama K em 09/03/2011
Código do texto: T2837463