E somos só isso
Isso só, talvez
E nus viemos ao mundo
Despidos de vaidades
De veleidades e vicissitudes
Alheios aos ditames da vontade
Ausentes de vícios e virtudes
E só isso somos
Poetas...
“Nem azuis nem nada...”
Crianças espevitadas
Tomando palavras emprestadas
Uns dos outros e brincamos
A mais séria brincadeira
“A poesia é para comer”
É para beber, lamber
Para agasalhar
Do frio e da escuridão
Ou para mergulhar
No fundo da imensidão...

Vazios viemos ao mundo
Lux mundi qual nada!
Viemos escuros
E descoloridos
Luzes e cores
Apanhamos no caminho
Aprendemos fazendo
Fazemos brincando
Brincamos vivendo
Vivemos e escrevemos
Escrevivemos...

Minha vida
As portas estão abertas
Cuide dela e da sua
Cuide como se fosse sua
Desde que esteja nu
De vícios e virtudes
De vaidades, veleidades
E de vicissitudes

Somos mesmo só isso
Num canto qualquer
Somos este canto
Qualquer encanto
E enquanto isso
Olhos que nos espiam
Do lugar aprazível
Choram de tédio
Morrem de solidão
Estragam palavras
Esses brinquedos
Por que querem
E não sabem brincar
Ou não querem
E preferem vestir-se
De toscas fantasias
Apertadas para o corpo
Muito largas para a alma

Enquanto isso,
sisudos e sérios
e melhores que nós
aqueles nos invejam
e cantam sós
e tanto pelejam
em busca da voz...


Somos isso
e só isso sabemos ser
viver e escrever
escrever e viver
escreviver...
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 08/03/2011
Reeditado em 29/07/2021
Código do texto: T2835754
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