Crônica do Menino-Vento
Em horas fim de tarde com sinais de outono e me sinto um pequeno sopro. Mas com quantas melhores palavras para dizer: eu, um ventinho-brisa, se desprendendo do grande sopro-ventania, meu pai. Ali perto donde árvores, arbustos se inclinam para brincar comigo em hastes de capim.
Mas que voraz o tempo! Ele, o Vento entre feraz e menino, eu sou seu filho. E neste exato instante é apenas uma lembrança, que o vi partir.
E do outro lado do Mundo alguém ardendo, nesta mesma tarde, o chama. E eu tenho ganas de atender, mas me sabendo pequenino, com que força hei de investir, se ainda não conheço das trilhas, o caminho certo a seguir por seu chamado.
De quem chama por um vento vigoroso e que traga em seu rastro águas, por tanto necessitar um pouco de frescura? Acalmar-lhe o corpo em febre, quero eu atender.
Então, peço um pouco da sua atenção: lá no quintal, quando do corpo de meu pai me desprendi, em uma mais robusta haste, esta com promessa de flor e estou dançando, venha me assistir.
E porque me atinge uma suave melancolia, coisa que as crianças bem sabem sentir se lhe roubam o gesto de ser livre, sou quase infeliz em recanto tão belo, aqui.
Mas veja que já sei desse seu olhar de enluarado, a noite se aproxima! E ainda danço um bailado redondo por aquela flor. Todavia, sempre pensando naquele que desconheço o rosto, mas me chama.
E o sono no entardecer? Com quanto o seu chamado, agora sou eu chamando... É meu primeiro dia de ser sozinho, mas quem irá me agasalhar o frágil corpo, pois que preciso de sonho pra dormir.
O sono suave de menino-vento.
Então, escolho o cantinho mais sóbrio, entre dois ângulos de cerca-jardim e já estou dormindo enquanto você não me vem...
... Amanheceu-me, à flor e nem mais lembro ter sentido sentimento solidão. Mas é tão louco e estranho esse mundo. E ainda desconheço o meu primeiro amor.
E eis que despertei de alma, os membros mais longos e dois grandes olhos passarinho velavam por mim, enquanto você não vem.