ÁGUA
Lava as mazelas
lava as grandezas
lava a sujeira
lava a miséria.
Água lava a água.
Em línguas e religiões
água lava os símbolos
os horrores e as compaixões.
E leva pela correnteza
o filho junto do pai
e apaga o fogo da cozinha
para aquecer o leito do rio.
Mata por excesso de afago
afoga o desejo do domínio
limpa os cômodos da casa
sorri entre os dentes da força.
Lava a glória
Lava a morte
Lava a honra
Lava a história.
E leva tudo para o leito
das contradições
das dissoluções
das profundezas sombrias.
Depois corre mansamente
a brincar com as pedras
que alimentam os peixinhos.
(Obs.: poema publicado no livro O Recanto Sagrado da Luz)