PARALELAS
Eu creio nos ecos das ideias
no dilúvio efervescente do viver
mas parte de mim é silêncio
e grita aos ouvidos surdos;
Eu creio nas marcas dos passos
nas areias movediças da imaginação
mas parte de mim é leveza
e quebra os galhos da memória;
Eu creio no calor das mãos
nos ombros abraçados pela solidão
mas parte de mim repele
a hipocrisia das mãos frouxas;
Eu creio no caminho aberto
para a morada na mansão celestial
mas parte de mim é dúvida
e corre pelos atalhos da mata;
Eu creio nas águas correntes
a limpar a sujeira dos frutos
mas parte de mim é proteção
contra as fortes correntezas;
Eu creio na força do amor
a fazer da vida doação
mas parte de mim é sacrifício
e alimenta as raízes;
A outra parte é pedra que grita,
flor que murcha
silêncio que se escuta
nos escombros da dor;
fé cega a esmolar espírito
pureza a carimbar a testa
peste negra que empesta
a mente idiota do sofredor.
Parte de mim é: a outra não.
(Obs.: poema publicado no livro O Recanto Sagrado da Luz)