PARALELAS

Eu creio nos ecos das ideias

no dilúvio efervescente do viver

mas parte de mim é silêncio

e grita aos ouvidos surdos;

Eu creio nas marcas dos passos

nas areias movediças da imaginação

mas parte de mim é leveza

e quebra os galhos da memória;

Eu creio no calor das mãos

nos ombros abraçados pela solidão

mas parte de mim repele

a hipocrisia das mãos frouxas;

Eu creio no caminho aberto

para a morada na mansão celestial

mas parte de mim é dúvida

e corre pelos atalhos da mata;

Eu creio nas águas correntes

a limpar a sujeira dos frutos

mas parte de mim é proteção

contra as fortes correntezas;

Eu creio na força do amor

a fazer da vida doação

mas parte de mim é sacrifício

e alimenta as raízes;

A outra parte é pedra que grita,

flor que murcha

silêncio que se escuta

nos escombros da dor;

fé cega a esmolar espírito

pureza a carimbar a testa

peste negra que empesta

a mente idiota do sofredor.

Parte de mim é: a outra não.

(Obs.: poema publicado no livro O Recanto Sagrado da Luz)

INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI
Enviado por INALDO TENÓRIO DE MOURA CAVALCANTI em 05/03/2011
Reeditado em 05/03/2011
Código do texto: T2830081