UM HOMEM
Eu sou uma mulher
magra e sem cor
sem sexo e sem rumo
certo a esmolar um colar
de folhas secas a encrespar
os joelhos em seu louvor
Eu sou um homem rude
que aos pés da cruz
se deitou e carrega-a em
procissão pelos caminhos
tortos impregnados de suor
dos pés mancos da devoção
Eu sou um escravo velho
da corte dos cegos
que caem de suas pontes
e mergulham triunfantes
em viagens mágicas
ao cordão umbilical.
Eu sou o homem.
Um entre tantos seres
iguais aos demais
andantes nas trilhas
de suas veias,
a naufragar na primeira
telha podre de minha
doce e terna construção.
(Obs.: poema publicado no livro Assim se Fez)