ONDE ESTÁ DEUS! (parte 6 de 7)
ONDE ESTÁ DEUS! (parte 6 de 7)
Deus está na paz do sono e no pesadelo do aflito;
Deus está no núcleo do átomo e no universo infinito;
Deus está no espectro do feio e no reflexo do bonito;
Deus está no que só foi pensado e no que está escrito;
Deus está na ilusão do paraíso e na estrada do proscrito;
Deus está na harmonia da natureza e na humanidade em conflito.
Na ponta do espinho e no beijo ardente;
No moderado cético e no fanático crente;
No suor do lavrador e no germinar da semente;
Na ética do vampiro e no tratamento ao doente;
Na eficácia do antídoto e no veneno da serpente;
No nosso corpo carnal e no íntimo da nossa mente.
No cubo de gelo e no crepitar da chama;
No terrorista suicida e no monge Dalai Lama;
No pedágio da ponte e no imposto da derrama;
No mando do capataz e no desdém da mucama;
Na composição de uma tonelada e no miligrama;
Na dízima periódica e na equação do fluxograma.
Está nas merecidas palmas e na vaia da platéia;
Está no filhote de cordeiro e no líder da alcatéia;
Está no furo da camisinha e no pus da gonorréia;
Está nas ventosas da minhoca e nos pés da centopéia;
Está no religioso católico e no seguidor da assembléia;
Está na metamorfose da caatinga e na pompa da hiléia.
No juramento da crisma e no pecado capital;
Na zarabatana do índio e no instinto do animal;
No palhaço no circo e no arlequim no carnaval;
No jejum na quaresma e na comilança no natal;
Na promiscuidade coletiva e na higiene pessoal;
Na montagem da cópia e na fidelidade do original.
Está na circuncisão da fimose e na degola da rês;
Está na tabela de química e no tabuleiro de xadrez;
Está no dolo do comerciante e na raiva do freguês;
Está no bisturi cirúrgico e nos mordentes da torquês;
Está no propósito da honra e na inépcia da estupidez;
Está no prazer do orgasmo e na indesejável gravidez.
No gesto de carinho e no desnecessário castigo;
Na morada ao relento e no aconchegante abrigo;
No abandonado na sarjeta e no ombro do amigo;
Na contração da preposição e no solitário artigo;
Na verruga, no furúnculo e na cicatriz do umbigo;
No gafanhoto que devora e em quem cultiva o trigo.
Está na tara do galo e no cio da cadela;
Está na rapariga devassa e na solteirona donzela;
Está na enredo da fábula e no capítulo da novela;
Está no nariz do Pinóquio e no sapato da Cinderela;
Está na entrada pela chaminé e na saída pela janela;
Está no terreiro de umbanda e na sacristia da capela.
Deus está na fina terrina e na tosca gamela;
Deus está na mega metrópole e na fétida viela;
Deus está no insípido caviar e na picante morcela;
Deus está na nódoa da roupa e na lixívia da barrela;
Deus está na salada de rúcula e no chá de pimpinela;
Deus está no balanço da suspensão e no fluxo da biela.
No osso da rótula e na coluna vertebral;
Na reta oblíqua e na abscissa horizontal;
Na areia da ampulheta e no relógio digital;
Na dieta do vegetariano e no voraz canibal;
Na lupa de vidro e no microscópio de cristal;
No barraco de favela e no inigualável Taj Mahal;
Deus está no chicote do feitor e no mimo da babá;
Deus está no minúsculo bonsai e no colossal baobá;
Deus está no templo do pastor e no ninho do carcará,
Deus está no licor de jabuticaba e na resina do jatobá;
Deus está na louvada iemanjá e no lendário Ali Babá;
Deus está no ricochetear do eco e no irritante blábláblá.
(junho/2003)