FIM DO CHÃO
desde cedo
venho lamentando o fim do chão
o abismo sob os sapatos devora
e me abre o infinito como um porão
mãos auxiliadoras perderam a hora
e em minha boca me falta uma oração
um freio, um choque, uma criança chora
vejo ruir as colunas do meu coração
um terrível terremoto de dentro pra fora
tudo se acaba como que por força de sansão
quem tem sangue o cheiro de morte apavora
e desde cedo
venho lamentando o fim do chão
e findo o chão
me resta o consolo de levitar
meus pés nus pendem flácidos
inutilizados pela leveza do ar
a cabeça cheia de pensamentos tácitos
adormece diante de um tenebroso altar
um grito, um coice, sorrisos ácidos
o nada que agora é nossa sala de estar
o deserto que outrora fora recantos plácidos
cinco minutos, nem é preciso contar,
cinco minutos e meus membros quedam-se inválidos
findo o chão
nada me resta senão o infinito locupletar.