CHUVAS DE VERÃO
Cissa de Oliveira
Nos dias em que a água insiste
em devolver o frescor às cores das janelas,
duas coisas me ocorrem naturalmente:
a primeira é desligar os demais barulhos
e a outra, acordar à contemplação.
Passada a chuva
vem a quietude pesada das árvores,
e eu penso nuns versos verdes soprados
que levantassem do silêncio pétreo
uma revoada de pássaros.
Depois, ao menos até a próxima chuva,
isso tudo parece esquecível,
é o que volta a insinuar o som da TV,
do telefone, dos carros nas ruas
e do tagarelar da criançada
que eu nem tive.