AO CORAÇÃO
Rompendo por entre as juntas da armadura,
Escorrem muita vezes gotas ensanguentadas
Que o coração verteu d'alguma chaga obscura...
E a cinza com o tempo atinge uma espessura
em couraça de bronze em que os golpes resvalam.
De certo te ame muito mais do que verdadeiramente
nunca houve ninguém tão louco que não conseguisse
chamar a si todo o céu com um simples sorriso
Instante que talha a flauta - de noite,
o amigo do seu silêncio - e mostra-o às águas
o pensamento e escuta:
pois nada surge com a sua própria forma,
e a palavra crê no escaravelho dentro do afeto que se molda.
No coração, talvez, diga antes:
- O desejar, o querer, o não bastar
e mesmo assim, vive e renasce em se entregar.