CRISE DE IDENTIDADE
eu sonhei
que estranho
sonhei que não era eu
troquei de pele como as cobras
de tamanho
de feição
ah, quanta aflição
lá se ia meu retrato
nas águas, de roldão
eu nem era poeta
nem professora
desesperada rolava na cama
e comigo mesma me bati
olhei pra mim com desprezo
e perguntei
mulher
que faz aqui
e a outra me respondeu
eu nem sei quem é você
e nem sou eu quem você vê
com a garganta em fogo
perguntei
enfim, quem você é
diga
seja mulher
vá buscar o meu retrato
e cole em mim outra vez
pois nem sei se é sonho
tudo isto outra vez
e tentei me acordar
ela foi que se acordou
olhou para mim com desdém
e disse
já vou
***
Orgulho-me de poder exibir nesta página um excerto de poema de TÂNIA ORSI VARGAS:
Aquela que me olhava e me via , deixei estar,
eu distraída em olhar minhas mãos,
qual seres de vida prórpria,
cansei daqueles olhos suplicantes dela (a outra)...
prefiro não encarar seus olhos a interrogar,
seus olhos angustiados querendo respostas,
respostas que eu não posso dar a ela,
a mulher que me olha de dentro do espelho...