O AMOR É UMA ARTE GROTESCA
I
nem nas paredes do louvre
nem nos corredores do inferno.
o amor possui sua própria galeria
de sutilezas naïve a arroubos modernos,
nem van gogh, nem egon schiele
nem o homem radiante de alegria.
falsas giocondas, isso sim
torpes girassois mortíferos
virgens dessacralizadas, enfim
o amor remete à oniricidade de salvador
dali.
II
toda dor que se pode expressar
num gotejar contínuo de matizes.
o amor sabe dar ao sangue a luz
e ao traçado, inesperadas diretrizes,
porém nem bosch, nem basquiat
tampouco orlando teruz
chapéus de magritte, então
grandes nanas inclementes
misérias portinarianas, por que não?
o amor me faz lembrar da coluna partida de frida
kahlo.
III
pinceladas violentas de paixão e fúria
como incisões cirurgicamente precisas.
o amor necessita dessa catarse muda
o que é puro, macula; o santo, animaliza
nem tarsila, nem botero
nem a maja desnuda
vejo a realeza soturna
belas paisagens distantes
e sintomáticas cenas noturnas
o amor traz em si, a reboque, o caos
de jackson pollock.
IV
nem nas paredes do louvre
nem nos corredores do inferno.
o amor não escolhe lugar para expor
seu acervo de mistérios eternos.
nem tamara de lempicka, nem bispo do rosário
nem outras obras tantas que retratam o próprio amor.
sinistras madonas renascentistas
o jardim das delícias terrenas
inexistentes curvas cubistas.
o amor nada mais é do que o coma, a soma
dos pesadelos de bacon.