FALA, IDIOTA!
O idiota fala.
Fala.
Fala.
E o povo se cala, como se entendesse
a transcendência da fala
do idiota.
A fala idiota, entende um, tem sabedoria
e os aplausos de tantos significam
que a beleza foi compreendida.
Ai, a beleza morreu, Maria!
Não percebeste?
O idiota é alçado à condição de ídolo.
E outros repetem a fala
do idiota.
E a idiota fala ecoa
e enfeita outdoors,
capas de cadernos,
livros,
programas de tevê.
Um apaixonado usa a fala idiota do idiota falante
como se poema fosse de perfeito amor.
É o triunfo do idiota:
o idiota presidente,
o idiota compositor,
o idiota ator, jogador de futebol,
o idiota religioso,
o idiota escritor,
o idiota simplesmente idiota-palhaço,
eleito deputado com milhões de votos.
Afogado em idiotia, o povo marcha
e cai em poço, Maria.
Lá, com garfos a postos,
cantam felizes
os oportunistas.