Carta a Orfeu
Poeta! Sou um ser em estado de desespero: o que me vibra aborrece os de absolutas verdades. E ser um ente entre explodindo de vida e pulsão de morte, eta mundo que tanto me periga.
Há sol no cenário. No entanto confesso envergonhada: um pouco antes, em quase meio dia de domingo e já descambo em melancolia. Mas que linda a paisagem pra morrer com asas e ingressar no azul!
Mira que em meu país é crime, mesmo as manifestações em sutil alegrinho. Contudo insisto em caminhar essas trilhas, de onde um fio-lâmina me espreita desde a sombra.
Por exemplo: hoje me amanheci mais passarinho. Dos miúdos, todo eu entre saltos e pios, brincando. Porque o Sol veio em amarelinho e brisa-se quase fim de estação. No entanto estou com febre e tristando um algo de desamparo.
Veja! Sou eu na corda bamba, lhe chamando... Tenho tantos medos, me consola em seus braços! Um abrigo é o que mais me falta quando amanheço assim, tão do azul.
Há muito o que dizer sobre meus horrores-fúrias. E é tão próximo daquilo que me faz feliz, o medo. Talvez que possa me explicar essas intabilidades. Mas que seja com palavras que até eu compreenda.
E estou no médio da corda branca: será que me acreditaria? Pois saltei do ninho para paisagem soberba e ainda não estava de asas, fortalecida. E o vôo em que tanto me quis voando, levou-me ao chão.
Então, sangrando lhe escrevo. E por que escrevo com palavras ardidas? Não sei! Mas a pele é exasperada e urgente na ânsia de encontrá-lo, irmão Poeta!