UM CONTO
UM CONTO
Conto um conto que conta sobre o encanto feliz de quem descobre sozinho que um conto é criado pra contar.
Dedilho as cordas do destino que caminham sozinhas na mesma harmonia.
Sem uma em outra tropeçar
Cavalgo montado pelado nos lombos pesados dos sonhos por mim não realizados.
Calçando os sapatos emprestados de um ser alucinado.
Vivo cada segundo apressado sem me importar com um louco passado que se foi lento e mal amado sem ninguém pra amar.
Amo loucamente quem me esnoba e me coloca em um lugar frio e esquecido sem um conto qualquer pra mim não chorar.
Meu amor de menino dormindo sozinho sem um colo amigo ou um seio enrijecido para o alimentar .
Mas me conta um canto que vai além do assombro de uma menina linda e inocente que não sabe beijar.
Ando louco cheirado caminhando descalço sobre o frio orvalho que insiste em me acordar.
Quando olho um espelho mudo de pálido a vermelho, esperando que o espelho não me mostre em o que acreditar.
Meus dedos longos calejados que ferem a minha face barbada limpando a mera indiferença que trago no distante olhar.
Ouço um conto que contam distante lembrando aquela voz estridente que não vejo mais por que usar.
Ou simplesmente sento em um banco de madeira pintada, sob luz de velas cheirosas esperando apenas o próximo dia clarear.
Ascendo um cigarro de novo lembrando do gozo gostoso que um conto harmonioso me fez satisfazer e gozar.
Ou fico esperando uma bela donzela brincando de ciranda e me chamando pra dançar.
Mas volto ao conto que conta que o conto é feito pra pensar.
Ou que o conto contado não passa de um desabafo tristonho que um simples contista ousou em sonhar.
Continuo sentado, esperando calado que os contistas pirados tenham sempre guardado um novo conto pra contar.