O MENINO FRANZINO E SEU DRAGÃO FELIZ
menino franzino,
amaro,
com gosto de purificação
côcôrôcô no avarandado
em meio às ladainhas,
às canções de rua
de raiz, na raiz, da raiz
da pátria amada
armada pelo avesso da bandeira
deste povo, dessa vila
velha
resistente.
nela,
tomou sorvete com João,
Gilberto lhe ensinou violão;
ouviu tanto Orlando Silva,
João Batista d’uma irmã;
respirou a Graça da voz
silenciosa de Maria
da dor, do grito de parto
calado pela heresia.
onde andará o menino
com cara de santo,
amargo,
ouvido por discos voadores
em pleno sete de setembro
junto à bandeira da pátria
no quartel de Realengo
distante do céu de Londres
no poder de emudecer as estrelas
na raiz, na raiz da raiz
feito o xixi para o alto
da ponte do Imperador cansado dos sete mares.
sonhador,
o menino “cara de santo”,
purificando as cinzas de Sampa,
espalhou seus sessenta anos
não crendo nem na morte nem na vida,
na queda do preço da esquina da menina
que lhe ensinou escrever nas camisetas
o amor com o gosto gasto do inglês.
agridoce e lírico,
o mano mais próximo da Terra,
com fogo nas ventas, viu o dragão do Jorge
apagando suas duas mil oitocentas e oitenta luas