SEM MEIAS E DESCALÇAS
pernas,
quanto mais juntas
mais querem andar
trocando de bem, trançadas
como dois riscos retos, qual um xis
suave, desatarraxado os quadris,
desencontrando o movimento das ondas:
calcanhares nas costas no sentido volta e meia
em frenesi, acendem-se e apagam-se lendo qual cegos
o rosto inconfundível do amor, quando está claro
pernas,
quanto mais soltas
mais querem ficar
presas ao vício, ao bom passo
como se as linhas das mãos, riscos
manchados, escrevendo histórias,
murmurando os destinos frio do vento:
coxas fortes em nós de marinheiro sentido porto
de chegar, abrem-se e fecham-se no toque do ausente
corpo devassadamente amador, quando n’água
no homem guardado,
centauro sem fala,
com a língua solta pela boca
pede perdão de joelhos, enfim: santificado.
na mulher composta
coberta sem silencio
oculta um segredo ao ausente
na penitencia do milho, enfim: debulhado.
De repente,
um beijo subverte a ordem dos cabelos...
há um gosto insano pelo cheiro do sublime
enquanto entrelaçadas,
as pernas juntas, paralelas
submissas aos arreios vindos do pescoço
acamam-se úmidas ao suspiro suado
do umbigo órfão sem cordão.
De repente,
o ato do amor passado ficou nu em pelo...
há um gosto, aí, de arrepender-se eternamente:
ainda entrelaçadas,
as coxas, assim como as pernas,
querem partir sem sequer ter aprendido a andar
- nem de amor a engatinhar -
apesar de tão pouco cansaço,
descem os andares da cama
e calçam as sandálias frias
que moram onde há pouco chão.
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