A poesia morre aqui
E fica entre nós
Entremeada do que entrecorta
Atada em intrincados nós
Estrangulada atrás da porta
A poesia morre entre nós
Já há tanto um tanto morta
Que fica aqui tão mais a sós
Morre aqui aquele lirismo
As pobres palavras tão pobres
De uns tão paupérrimos versos
Morre nos sentimentos comuns
E nos caminhos diversos
Morre naqueles olhares perdidos
E esperançosos para além do cais
Morre no que não foi dito
Na vontade fraca da estrada
Na desnecessidade de caminhar
A poesia morre e não diz mais nada
A poesia necessária agora é calar
 
A poesia morre aqui
Um dia tinha que morrer
E levar tudo o que senti
O que não sou capaz de dizer
Ou o que sou capaz de não dizer
(O que dá no mesmo...)
E nem quis e não diz
Da fábula que não vivi
Tinha que morrer um dia
Espero que o dia seja este
Em que cada verso sucumbe
E agoniza cada palavra
Em que a palavra de todo verso
Tenha nascido para se esquecer
 
A poesia morre aqui
E nada fica entre nós
(A não ser o que não se suporta...)
Somente os intrincados nós
E o vazio do lado de dentro da porta
A poesia morre aqui
Sem deixar nenhuma saudade
Do que ainda nem foi
Ou do que poderia ter sido
A poesia Não Dita, Mal Dita, Dura de ser
Sem qualquer conluio com a verdade
Na verdade da necessidade de ter
 
A poesia morre aqui
No meio de vozes ulteriores
Das exteriores que atrapalham
Todas as vozes interiores
A poesia morre, mas sem dor
Porque morre alhures de amor
Morre de saudade e não promete
Não poder ir aonde fores
A poesia morre aqui
Banhada de silêncios tragicamente
E morre não mais que de repente
Deitada nesse jardim sem flores
Morre desprovida de suas cores
Morre como tem que morrer
Plena de incertezas posteriores
E jurando nunca renascer
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 24/02/2011
Reeditado em 29/07/2021
Código do texto: T2812556
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