VENTO MADRUGADOR...

Um pouco de mim deixei

pelos caminhos que andei:

sonhos, aflição, gostos e suor.

Duravam uma eternidade

aquelas noites de frio cortante.

Perpetuaram em mim as

feridas daquele tempo.

É isto esta casca dura que

carrego sob minhas vestes.

Estas rugas na minha face

não surgiram agora não.

Nasceram da poeira dos dias

que passei solto pelas estradas.

Estes caminhos que percorri

sorveram metade da ternura

que continha nos meus olhos...

A outra metade, se ainda existe,

escondida está, até de mim mesmo.

Plantei na poeira dos caminhos

a planta do meu pé descalço.

Plantaram em mim as dores

de Joãos, Antônios e Josés...

Nos meus dorsos as dores do mundo.

No vozerio angustiante do silêncio

o que me acalmava era sentir

o vento madrugador passar

acarinhando o meu rosto...

Na fé do caminhante eram carícias

de Deus no rosto do ser padecedor.

Eu, que pensava que ficava pouco

a pouco naqueles caminhos...

Somente agora percebo que

foram eles que ficaram em mim.

Cada curva, cada monte, cada chuva

naquelas noites frias e longas,

expurgava meus defeitos e

deixava-me puro de novo.

Escapei às tempestades e

as durezas dos caminhos;

as partes que perdi, de

fato não me pertenciam.

As marcas do tempo é que

me deixaram assim:

de semblante triste e meio rude, ou

de semblante rude e meio triste...

Não sei bem ao certo, mas sobrevivi.

IVAN CORRÊA
Enviado por IVAN CORRÊA em 23/02/2011
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