Necrotério
Outro corpo invade-me as entranhas.
Gelado como tantos outros.
Não me dirige a palavra.
Não me pergunta sobre o dia, a vida enfim.
Não reclama do tempo.
Não fala mal do governo.
Não queixa-se de suas dores
Não me fala dos seus medos.
Mudo.
Permanece em mim por um tempo.
E sai sem se despedir.
Sem prometer uma volta, quem sabe um reencontro casual.
Nada.
Não me deixa contatos.
Não deixa vestígios e sai.
Como tantos outros.
Enquanto eu fico no meu silencio, a sós, pensando,
Cogitando o porquê de minha vida...
Esperando o corpo.