Não quero estes dons
Vim devolver tudo
Bastam as pernas
E os pés para pisar o chão
Bastam as mãos
E os dedos para cavar a terra
Que os olhos sejam só para ver
Se é noite ou dia, se chove ou não
Que os ouvidos ouçam o vento
O silêncio do tempo e o trovão
A música feita do vazio
Do que todas as coisas não são
Não quero estes dons
Que se cheire apenas terra molhada
A relva banhada de orvalho
Que a boca seja apenas para comer
O fruto e o pão
Ou beber a água da fonte
E que não expulse a palavra
Que devia jazer na imensidão
Não! Eu não quero estes dons
Vim agora devolver tudo
Fico só com estes calos na mão
Com os pés cansados de tanto ir
Quero ouvir só a música do trovão
E ver mais este dia que tem que partir
Não quero estes dons
Devolvo tudo, este e aquele
E mais este que não tem precisão
Que o coração só bombeie o sangue
Que o cérebro defina a sensação
Porque tudo o mais
O amor e a emoção
O sentimento e a imaginação
Esse lirismo dessa comoção
E toda essa inspiração
São dons que não quero
E devolvo tudo
Para volver os olhos para o chão
De onde tiro o fruto e o pão
E onde enterrei o coração...
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 23/02/2011
Reeditado em 29/07/2021
Código do texto: T2809812
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