ONDE ESTÁ DEUS! (parte 2 de 7)
ONDE ESTÁ DEUS!
DEUS está na cela no convento e na cama no motel;
DEUS está no documento oficial e na xepa de papel;
DEUS está na bruxa esquizofrênica e no mágico pinel;
DEUS está na nave do extraterrestre e na torre de babel;
DEUS está na cobertura do sorvete e no recheio do pastel;
DEUS está na lenda do funcionário público e no papai Noel.
No anel de casamento e na ata de separação;
Na simples brincadeira e na complicada lição;
Na guilhotina do carrasco e no socorro ao irmão;
No engodo da tarefa e no cumprimento da missão;
Na resignação do corno e na insensatez da traição;
No cobrador de impostos e na propina da corrupção.
Está na leveza da pluma e na força da gravidade;
Está nas ninfas, nas sereias e no conjunto da deidade;
Está na carranca do banzo e no regozijo da felicidade;
Está na praxe do individualismo e na rara solidariedade;
Está no acorrentado na senzala e no que curte a liberdade;
Está no Alá, no Baal, no Buda e na Santíssima Trindade.
Deus está na droga do viciado e nas fezes do suíno;
Deus está nos óculos escuros e no álibi do assassino;
Deus está no luxo do diamante e no lixo do grã-fino;
Deus está nas mãos de Pilatos e na ironia do destino;
Deus está na empáfia do ianque e na simpatia do latino;
Deus está na espessura do grosso e no comprimento do fino.
No fator Rh e na molécula do genoma;
No sinal de subtração e nos termos da soma;
No insignificante ferimento e no trágico coma;
Na hóstia no ostensório e no incenso na redoma;
No bandido escolado e no advogado sem diploma;
Nos vídeos pornográficos e nas orgias em Sodoma.
Está na cauda do cometa e na aurora boreal;
Está no fazer o bem e na chantagem para mal;
Está na ingênua pergunta e na resposta imoral;
Está na loira oxigenada e na morena escultural;
Está na página do livro e no classificado do jornal;
Está na ínfima parte do todo e em cem por cento do total.
Na modesta filial e na exuberante matriz;
No incolor e no colorido de variado matiz;
Na natural cachoeira e no artificial chafariz;
Na bomba H, no nó górdio e no pedaço de giz;
No prêmio da virgem e na mácula da meretriz;
Na folha, no galho, no tronco, na seiva e na raiz.
Na saúde de ferro e na doença contagiosa;
Na carniça do urubu e no perfume da rosa;
Na epidemia de gripe e na vacina endovenosa;
Nos glóbulos vermelhos e na célula cancerosa;
No texto da homilia e na propaganda enganosa;
No interior do buraco negro e na superfície da nebulosa.
Está no miolo de cabaça e na cachola vazia;
Está no zero na matemática e no vírus na biologia;
Está na rigidez da ditadura e na zorra da anarquia;
Está no conto sem nexo e nas estrofes desta poesia;
Está no que pratica macumba e no que estuda teologia;
Está na mordaça dos eleitores e na genuína democracia.
No êxtase do tesão e na agonia da impotência;
No afinco da crueldade e na apatia da clemência;
No desatino da pressa e na espera com paciência;
Na luxúria da carne e no sofrimento da penitência;
No fazer gambiarra e na fabricação com competência;
Na brutalidade de alguns e nos outros a subserviência.
Deus está no repique da viola e no dedo do tocador;
Deus está na fuga da caça e no malogro do caçador;
Deus está nos vários meridianos e no único equador;
Deus está na isca no anzol e na bazófia do pescador;
Deus está no péssimo profissional e no ótimo amador;
Deus está no dividendo, no quociente, no resto e no divisor.
(junho/2003)
N. B. Ouvindo as vozes da razão, acatei alguns amigos RECANTISTAS; e, mudei o título.