Apanhei aquelas palavras todas
Abarrotadas no carcomido baú da poesia
Para me desfazer delas de vez mais uma vez
 
Lancei algumas no mar
Em todos os mares espalhadas
E eram pesadas, vi afundar
Outras tantas, mais leves
Atirei aos primeiros ventos
E foram soar distantes perdidas
E impronunciadas...
Algumas outras horríveis
Espalhei pelos continentes
Escondi no alto das montanhas
No fundo da funda caverna
Enterrei ao pé das árvores eternas
Talvez brotassem melhores,
Talvez voltassem flores e frutos
Ou folhas mortas...
 
Assim desfeito das palavras
Pude ser vazio como o silêncio
Desfiz-me da poesia encantada
E de seus encantamentos...
 
Ela, no entanto, feiticeira
Achou de não se desfazer de mim
E voltou nos ventos e feito chuva
Volta sempre flores e frutos
Folhas tenras de árvores novas
A poesia recolhe as palavras
Uma a uma, elas todas
Para o vazio do baú renovado
 
Não me deixa não dizer
A palavra sempre volta
Em revoada, revoltada
E me obriga a viver...
Marcos Lizardo
Enviado por Marcos Lizardo em 22/02/2011
Reeditado em 29/07/2021
Código do texto: T2807738
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