Girassóis póstumos

Os olhos da angústia perdidos em distantes campos

Encontraram uma doce inspiração

Embalados pelos encantos

De uma ensolarada tarde de verão.

O sol invade subitamente a alma.

O coração adormecido volta a palpitar.

As mãos tremulas tentam manter a calma.

Os pássaros selvagens começam a cantarolar.

Os sonhos de uma vida inteira

Em desesperadas pinceladas

Vão renascendo das cinzas da ira

E tomando a forma de uma pedra lapidada.

Eis as flores que acalentam a alma

Doze girassóis murchos e amargurados

Aprisionados em um vaso com água

Doze vidas lentamente anuladas.

Longe dos campos onde nasceram e cresceram

Os girassóis assistem passivos a passagem do tempo

Estão condicionados as leis dos homens que os colheram

Aguardam ansiosamente o reconhecimento dos seus talentos.

Suas pétalas de um amarelo vibrante

Adquirem, aos poucos, a cor da morte

O cinza é a cor predominante

Encontram-se abandonados a própria sorte.

A morte triunfa sob a vida.

Igualmente sob a arte.