UM ABORTO: UM POEMA

Sugeriram que eu escrevesse um poema

Fui à procura das idéias

Das palavras...

Dos sentidos dos fonemas

Das rimas e estrofes

Tudo leva a crer que não existiam

Constatei que ainda não foram expressas

Nem mesmo foram pensadas

Ainda estavam no espermatozóide

Precisava da fornicação

Para acontecer a união deste com um óvulo

Para a germinção dos caracteres

União esta no interior de um útero

Na procura:

Abri dicionários

Folheei revistas

Vi e ouvi televisão

Fui à caça em compêndios

A barsa me apresentou o óvulo

Num tomo de neurônios

Disponível, mas não virgem

Estava prenhe de sons desconexos

Faltava o útero

Achei! Estava em mim

Justamente no meu cérebro

A placenta foi um computador

Fecundados se tornaram gametas

Destes passaram a cromossomos

Depois moléculas de letras

Destas um emaranhado de palavras

O feto não se desenvolveu

Abortei este poema

(outubro/1993)

Aleixenko
Enviado por Aleixenko em 18/02/2011
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