UM ABORTO: UM POEMA
Sugeriram que eu escrevesse um poema
Fui à procura das idéias
Das palavras...
Dos sentidos dos fonemas
Das rimas e estrofes
Tudo leva a crer que não existiam
Constatei que ainda não foram expressas
Nem mesmo foram pensadas
Ainda estavam no espermatozóide
Precisava da fornicação
Para acontecer a união deste com um óvulo
Para a germinção dos caracteres
União esta no interior de um útero
Na procura:
Abri dicionários
Folheei revistas
Vi e ouvi televisão
Fui à caça em compêndios
A barsa me apresentou o óvulo
Num tomo de neurônios
Disponível, mas não virgem
Estava prenhe de sons desconexos
Faltava o útero
Achei! Estava em mim
Justamente no meu cérebro
A placenta foi um computador
Fecundados se tornaram gametas
Destes passaram a cromossomos
Depois moléculas de letras
Destas um emaranhado de palavras
O feto não se desenvolveu
Abortei este poema
(outubro/1993)