CY/KURUMI

de costas para o mundo constituo minha aldeia

ergo um totem invisível em tributo a um deus secreto

pintado para a guerra me armo de coragem e boas flechas

boas flechas que destroem velhas fortalezas de concreto

mãe,

me perdoe se falhei na tentativa de ser sua venus de milo

há rachaduras no alabastro em que tanto confiavas

sou mais palha do que pedra, cachoeira em vez de tempestade

enquanto você me esculpia, eu sonhava

mãe,

chegará um tempo em que a taba não mais comportará suas ocas

e a aldeia estenderá seus tentáculos até que vire cidade

então já não poderei ocultar as luzes que me ensinam outro caminho

enquanto você me ensinava virtudes, eu procurava a verdade

perdido na imensidão do tempo, conto minhas luas

o coração atravessado por uma lança fria de incerteza

pintado para a guerra talvez recue quando vir a muralha

de tão pequeno que sou diante destas fortalezas