Amor das minhas existências
E, sim, ele voltou...
Apareceu de leve como uma sombra,
no sussurro esquivo da madrugada,
na imagem irreal e intocável,
sim... sua imagem me olhando nos olhos,
como se ainda me conhecesse os sonhos,
nascendo de dentro dos meus sonhos,
beijando minha alma de dentro dos meus desejos.
Como falta-me a vontade de respirar...
tenho medo de que o ar me sopre a imagem.
O lenhador... ele voltou.
Voltou no rosto da brisa que me acorda com um beijo,
todas as manhãs...
... e nos meus sonhos...
Como irmão que me beijaria a boca,
como meu amado irmão que se casaria comigo...
Ah, meus sonhos...
ele veio traduzido nos olhos mais puros,
nos abraços mais amados,
nos silêncios mais sinceros.
... Ele veio...
Veio e me deixou paralisada,
de medo de perder aquele momento.
Santo momento.
O lenhador...
ele mais parece um anjo me consolando
da solidão de sentimento em que me afogo.
Mas... benditas as tuas palavras não ditas,
porque foram elas que me salvaram da dor.
Sagrados olhos que, agora, voltam para me despir,
para aclarar minha alma de tanta sujeira,
para limpar meus olhos de tanta água,
e meu coração de tanto gelo.
Sim, salva-me, anjo...
Salva-me e leva contigo tua menina,
arrasta contigo a ventania da meia-noite...
leva para seu silêncio o amor,
o amor da minha existência.
Lenhador... luz das minhas sombras,
ao olhar em teus olhos prendo a ti minha vida.
Selemos desde já nossa eterna união,
porque mesmo que eu através das galáxias voasse,
jamais encontraria outro um,
o qual pudesse tocar, ao menos com as pontas dos dedos,
o meu amor... por você.
Porque somente em ti enxergo a solução do meu enigma,
somente em você encontro a verdadeira paz,
somente em ti... o meu intocável amor.
Intocável para minha pele,
que já o sente apoderar-se de minhas veias,
invisível para minha realidade,
que sinto esvair-se ao ouvir o seu chamado...
Ah, sim... venha, lenhador...
que, como se cortasses uma bela árvore
para edificar as paredes de tua casa na floresta,
assim cortas também os fios de meu incerto destino,
para entrar, como o vento forte do norte,
nos cantos mais escuros e nos segundos mais brilhantes
da minha vida... que é tua vida.
Ah, sim... não sei se és de sonho,
não sei se minha solidão me fez desejar você,
ou se meu desejo incompreendido
me fez sonhar tua imagem tão bela...
Não sei...
e dói pensar que talvez um dia eu saiba,
e que, ao saber, você seja só um sonho bom.
Oh, meu sonho bom,
quero sua imagem deitada por sobre meus dias,
quero sua inspiração roubando-me o ar que me falta,
sua expiração movimentando
os átomos... da minha existência;
seu perfume de floresta envergonhando minhas flores,
seu sorriso tão liberto desmanchando minha amargura.
E seu olhar destruindo minha ruína,
enquanto seu amor constrói o meu castelo.
Homem dos sonhos meus,
jamais me esqueça nas sombras da realidade...
quero viver de sonho em tua leve companhia,
desaparecer nas brumas da floresta,
para surgir, ao acaso, em teus braços,
dormindo em teu peito,
abraçada ao amor da tua temperatura,
cheirando o ar emaranhado nos teus cabelos,
até o surgir incendiado da aurora.
Viver derramando minha alma
sobre o amor da minha existência.