RUÍNAS DA CASA DE PEDRA
Apenas vislumbres de outrora
em magnífica pedra
fortaleza dos fracos
proteção
solidez
e o cheiro do vento
e as vozes a cantar eternamente
os seus humanos lamentos.
Da pedra dos ossos plantados nas enxurradas
verte o sangue e a perdida esperança
arrastam-se pensamentos vazios
e tudo parou de repente
na mornidez da tarde que já se esvai.
O grito do quero-quero fere em aço fino
meus ouvidos destentos.
Ao longe, perto de uma colina muito verde
qualquer coisa se mexe denunciando a vida.
Aqui sentada ao teu lado
estou mais só do que nunca.
O ar está cheio de nada e
alguma nuvem denuncia chuva.
O meu corpo respira sem sentido e se faz mudo.
Teu sorriso agora distante , uma vaga imagem...
pensamentos desonectados...
Velhos rostos em branca espuma
desfalecendo em sopros gelados.
E sempre a certeza da eterna dúvida
que passeia soberba e implacável
sobre meus ombros!
Muitos caminhos para poucos pés
muita luminosidade para a nossa cegueira.
Antevisão de nada, desfalecimentos
e a mesma lenta marcação do tempo
que se alonga em minutos , que se desfaz em horas
que se esvai em muitos anos deixados pra trás.
A certeza da eterna dúvida
que faz brotar ciência, filosofia e medo
aquela que nos consome
e nos leva a estranhos caminhos,
aquela que traz perplexidade e inconformismo
e faz surgirem vozes de revolta
ante as injustiças do mundo.
E a tarde morrendo, com a rotação da Terra
traz a noite lentamente.
Enfim, o céu se revelará coberto de estrelas
lembrando a imensidão do Universo.
Logo mais... e tão logo que...
assim se sucederão os dias de todo sempre
assim se sucederão nascimentos e mortes
e dores e risos, e toda a repetição
dos mesmos erros e acertos
das mesma esperanças e desesperos...
Da nossa eterna dúvida
proliferam as guerras, os ódios, os enjeitados.
Dela advêm fanatismos e recrudescimentos.
Da nossa eterna pequenez e desejo de vencer a morte nascem ideologias, heróis, monumentos, protocolos.
E ainda assim ela virá buscar a todos indistintamente.
E enquanto as igrejas se enchem de orações
a vida corre livre pelas ruas
e olha desconsolada para as pessoas em contrição.
E enquanto homens enlouquecem pelo poder
outros os aplaudem por covardia
temor e oportunismo equivocado.
Estamos construindo sempre
sobre as mesmas ruínas
da velha casa de pedra.
Mecanicamente, repisamos a mesma lama
e atolamos irremediavelmente
neste charco de impossibilidades.
Da eterna dúvida,
dessa interrogação incômoda que nos acompanha
desde o nascimento até a morte
nascem todas as nossas ânsias
tropeços
grandezas
e iniquidades.
Em 30 de maio de 2007