Desvario
Do Capítulo da paixão.
Um poeta incomum, de traços comuns
de gestos comuns
de ofício comum
falou-me um dia
sobre os meus cabelos
lembrou-me que os meus cachos
são brasileiros.
Um poeta de força incomum
beijou-me
me acariciou a testa,
me beijou o colo,
e em poucas palavras
decifrou-me.
Um poeta de olhar incomum
cantou para impressionar-me
cantou uma canção simples
linda, uma Valsinha
cantou para que eu sorrisse
para que eu não mais chorasse
para que eu vivesse.
Um poeta comum em desordem
disse-me que não mais voltaria
que não mais me amaria
enchi-me de lágrimas
e
dentro de mim, por longos instantes, morri.
Um poeta comum tentou fugir
soltou então a minha mão
e
retomou a sua velha viagem.
Um poeta incomum,
na ausência sentiu...
e
ante a bagunça de sua história
complexa e apaixonada,
bem no cantinho... olhou...
me viu e pressentiu
que sua alma é chama
e me chama
e
de volta pra mim, chegou
de mansinho e ante o beijo
sorriu...
Brasília - DF, 2010.
Do imaginário poético de quem reconquista.