TERRA DE NINGUÉM
Nos confins da minha terra
Há uma guerra sem sentido
E um povo que se encerra
Frente a um homem destemido.
Um consentimento excluso
De palavras e atitudes,
Um poder que faz do uso
Tornar vozes em quietudes.
Fazer cegos sem cegueiras,
Tapar olhos de uma gente,
Um governo, pelas beiras,
Se apossando lentamente.
Anestesias sem dores,
Linimento sem prurido,
E o povo, em favores
Paga a conta emudecido.
Há um microfone aberto
Mas, o povo não tem vez,
Só o poder está por perto
Pra bradar desfaçatez.
Nele canta a sua glória,
Faz caridade alheia,
E se lança para a história
Nessa terra sem cadeia.
Nessa cidade que moro
Uma Avenida se destrói,
Os arbustos que eu adoro
Tombam à dor que a mim me dói.
Nesse chão de falar alto
Toda a ordem é pra mudar,
Trocam plantas por asfalto
Dizem “revitalizar”.
Nos rincões da minha terra
Quem da roça vem pra cá,
Traz à frente a motosserra
Pra fazer o que fez lá.
Eu fiz dela o meu reduto,
Tenho o cheiro dessa terra,
Estes versos são o luto,
De um cabrito qu’inda berra.