TERRA DE NINGUÉM

Nos confins da minha terra

Há uma guerra sem sentido

E um povo que se encerra

Frente a um homem destemido.

Um consentimento excluso

De palavras e atitudes,

Um poder que faz do uso

Tornar vozes em quietudes.

Fazer cegos sem cegueiras,

Tapar olhos de uma gente,

Um governo, pelas beiras,

Se apossando lentamente.

Anestesias sem dores,

Linimento sem prurido,

E o povo, em favores

Paga a conta emudecido.

Há um microfone aberto

Mas, o povo não tem vez,

Só o poder está por perto

Pra bradar desfaçatez.

Nele canta a sua glória,

Faz caridade alheia,

E se lança para a história

Nessa terra sem cadeia.

Nessa cidade que moro

Uma Avenida se destrói,

Os arbustos que eu adoro

Tombam à dor que a mim me dói.

Nesse chão de falar alto

Toda a ordem é pra mudar,

Trocam plantas por asfalto

Dizem “revitalizar”.

Nos rincões da minha terra

Quem da roça vem pra cá,

Traz à frente a motosserra

Pra fazer o que fez lá.

Eu fiz dela o meu reduto,

Tenho o cheiro dessa terra,

Estes versos são o luto,

De um cabrito qu’inda berra.

Vilmar Daufenbach
Enviado por Vilmar Daufenbach em 16/02/2011
Reeditado em 17/02/2011
Código do texto: T2796028