DEVANEIO
A minha inspiração, eu busco nas palavras do mundo.
Pois do mundo, eu sou parte encantada.
As palavras vêm como um grito,
das bocas, dos bichos e do vento.
Um grito de amargura, grito de dor.
Grito de amor.
É desumano o mundo, não o amor.
E transfigura os rostos perdidos em
crenças e desejos.
Os corpos, pungentes em desavenças,
confundem a minha inspiração e o silêncio
dos amores incompreendidos.
É desumano, amar, não o amor.
É dolente o olhar das mulheres envaidecidas
e sofridas.
É comovente o calar dos Homens cansados.
E a minha inspiração se perde neste pranto.
É ingênuo o riso da criança que renasce
no seu brincar.
E eu encontro a minha inspiração no sonho
da moça que almeja o impossível.
É espantoso o riso, o sonho, o choro.
É admirável o silêncio, o grito, o medo...o vento.
E nesse conflito, nesse ressentimento,
a vida segue, imprevista.
Bendita vida, que nos machuca e nos
engrandece.
Nos cala e nos faz gritar.
Nos ama e nos faz amar.
A vida, nos busca infinitamente.
E de repente, não mais que de repente,
nos abandona.