O ESTUPRO DAS ESTÁTUAS
O E S T U P R O D A S E S T Á T U A S
Daquele gordo meteoro
Que os hilários coroas
Diziam ser lixo atômico
Esculpiram duas estátuas
Uma toda negra luzidia
Conhecida por obsessão
Compraz-se em ingênuo desatino
É glutona da concórdia
A outra se vê que é rubra
Chamam-na deprê... depressão
Fortalece-se por expressar negativismo
É letárgica na conduta
A primeira é completamente cega
A segunda é perigosamente violenta
Ambas exprimem egoísmo
O rei do apocalipse, o peido
Num século de insônia
Violou as gêmeas
O velho desgraçado de olhos tortos
Com o ânus soprou seu berrante
A fedentina se fez insuportável
Pelas ventas aspiraram enxofre
E lutaram a batalha do armagedon
Elas pela honra e ele pelo gozo
Não houve vencedores
O ex-anjo toca as trombetas da dor
Não mais existem selos nem hímens
Está consumada a violação
Aquela amórfica escultura era de gelatina
Naquele quasar o estupro foi inédito
Na ordem do dia, ménage à trois
Tornaram-se tolamente mudas
E o tempo seguiu adiante
(setembro/1983)